14/10/05

Dança comigo um Bolero

Vamos girar no salão ao ritmo da música que nos incendeia o corpo e nos aguça os sentidos. Deixa-me abraçar a tua cintura, balançar o corpo na inefável leveza do teu ser. Colar o teu peito ao meu, respirar o aroma dos teus cabelos, o calor da tua nuca, e o gosto dos teus lábios.

Vamos, em passos harmonizados, deslizar pelo palco dos sonhos, como se fôssemos os únicos, como se o mundo se reduzisse só a nós dois.

Deixa-te envolver pela melodia, as minhas mãos percorrerem o teu corpo e entrega-te como se não existisse um amanhã, como se a vida fosse um compasso, uma cadência musical e, o clímax da nossa existência, um instante.

Baila comigo e, com os nossos corpos em sintonia, voar pela janela aberta, dançar no céu sem fim em movimento contínuo e eterno num singular anseio de estarmos juntos, para sempre!..

… Dança comigo um Bolero!

12/10/05

Olá Noite!...

Olá noite! Depois de tanto tempo sem te ver, voltei a encontrar-te. A lua está em fase crescente?!.. Não se vê o homem com o fardo às costas.

Tranquilidade. Serenidade.

Cai a chuva soalheira. A terra gulosa sorve de bom grado esta oferta dos céus. Cheira a mato. Um cheiro suave. Uma rã coaxa. Saiu de seu limbo. Prepara a sua garganta para agradar à fêmea. Irão surgir novos girinos.

Vai-se o Verão, o Outono bate à porta. As folhas farfalharão. As árvores irão estender os seus braços nus para o espaço em clemência para que de novo se voltem a cobrir. A Natureza é a nossa Mãe. Tanto nos bate como nos aconchega no seu leito materno.

São cinco horas! Horas de agonia. Tempo sem horas, horas sem tempo! Não tenho tempo para ter tempo! Cada minuto, cada segundo, num tempo sem tempo!.. Os olhos vêem o que não deveriam ver. O tempo a andar, o meu tempo a consumir-se!..

17/09/05

Mãos!...

                                      Um gesto, um chamamento
                                      De enfado, de ternura
                                      De oração, de sentimento
                                      De prazer, de loucura

                                      De um beijo que se envia
                                      De um obstáculo que desvia

                                      Mãos em rosto afagando
                                      Mãos lisas, mãos enrugadas
                                      Mãos feridas, encarquilhadas
                                      Mãos ao alto, implorando,

                                      Mãos no peito batendo
                                      Mãos puras e belas
                                      Mãos por alguém sofrendo
                                      Mãos de muitas quimeras

                                      Mãos que amam
                                      Mãos que se estendem
                                      Mãos que embalam
                                      Mãos que se vendem

                                      Mãos de irmãos
                                      Mãos sem idade
                                      Mãos que são mãos
                                      São mãos de AMIZADE!

23/08/05

Fora de Horas...

Esfumaram-se todos na bruma fria e densa da noite escura. Estou só com os meus fantasmas. Arrepio-me.

Os dedos percorrem o teclado, juntando letras, formando palavras…

… Quantas vezes temos uma multidão a rodear-nos e sentimo-nos sós. Quantas das vezes olhámos para alguém a nosso lado e, amargura, esse alguém já nada nos diz. Quantas das vezes gritámos ao vento e ouvimos o eco das nossas palavras. Quantas blasfémias, soluços, paixões…

… As horas voam como pássaros assustados. Horas de mutismo, horas de contemplação, horas de interiorização… e os ponteiros avançam. Uma, duas, três horas da madrugada, já são quatro. Como na vida, as horas da noite caminham para o seu fim, irredutíveis, sem parar!..

… Só eu é que ando fora de horas. O dia está a nascer. Ao longe a neblina matinal envolve as casas e as árvores. Um despertador toca, corpos espreguiçam-se, a noite morre o dia nasce. Em silêncio, nada mais me interessa senão esta amargura que sinto. Um dia que se junta a outro que já passou, sem deixar rastros ou lembranças. Dias que se transformam em semanas, meses, anos. Mais um dia que para mim será noite. Tenho que descansar o corpo, descansar a alma. Rostos e mais rostos, passos e mais passos. Frenesim, multidão, poluição. Gritos, choros, indiferença. Um pulsar. O sol omnipotente espreita, é verão!.. e eu, sozinho — tão sozinho — estou fora de horas!


20/08/05

Escrevi...

Cartas de Amor! Cartas que encurtavam a distância com a força da escrita, em que a paixão se expressava sem medo e as palavras fluíam livremente pela pena, levadas pelo vento. Versos que revelavam sentimentos, emoções vividas, lágrimas derramadas.

Cartas que contavam sonhos, planos ou simplesmente declaravam… Amo-te!

Cartas amassadas, cartas rasgadas, o recomeçar a escrever; a dor do afastamento, da ausência, do desejo e da saudade. Saudade de regressar, saudade do Amor!

Cartas com aromas, beijos, corações e juras. Cartas de raiva, de ciúme e de perdão.

Hoje, permanecem guardadas, ordenadas, amarradas. Memórias escritas de um tempo em que o tempo era contado… pelo atraso da resposta!

…Cartas de Amor, quem não as tem?!

09/06/05

O Mar

Ó mar eterno, mar eterno
Que desde o inicio dos tempos perduras
Canta-te em Odisseia Homero
Heróis de fantásticas aventuras

Marius

Chego à praia deserta. Centenas de gaivotas repousam na areia, aguardando os primeiros raios solares que lhes aqueçam o corpo e lhes deem o vigor para voar. O mar ergue vagas que se quebram com força na areia sedosa, que parece dizer: «Quanto mais me bates, mais gosto de ti».

As dunas, com a sua vegetação típica, parecem partilhar comigo o silêncio ruidoso que me envolve. Por momentos, esqueço-me do resto do mundo, fico eu e o mar… apenas!

As cristas brancas, ondulantes. Como tudo se integra em mim. Sento-me às vezes no meu rochedo e converso com ele, com o mar, com o meu mar e ele escuta os meus silêncios.

Olho para o infinito e sei que um dia, o mar e eu, seremos um!

13/05/05

F l y










Empresta-me as tuas asas passarinho
Para voar na abóbada celeste imensa
Pois na terra eu caminho
Entre trevas e névoa densa

Quero as tuas asas
Para ver maravilhas do mundo
Pois na terra além de desgraças
Horrores de guerra,... vislumbro!

Tenho como singular desejo
Ver paisagens da natureza
Pois na terra homens vejo
Uns na pobreza outros na riqueza

Quero ver do firmamento
Mares, rios, fios de prata
Pois na terra traz o vento
Cheiro de morte do ferro que mata

Quero aquela estrela mimosa
Que cintila ali em cima
Pois na terra fria e orgulhosa
A guerra sobre despojos humanos caminha

Quero planar
Enquanto tu descansas
Quero rasar o mar
Molhar-me nas águas mansas...


... e, quando um dia, a vida me lançar da falésia da existência em queda vertiginosa, ó Fernão dá-me asas para fazer um "looping" e poder voar... rumo ao infinito, rumo à perfeição!





Dez.73

03/05/05

Divagando!...


Sozinho, encontro as ruas do meu destino!


Por uma amizade perdida, uma lágrima tem guarida!


As lágrimas do meu olhar, são chuvas do meu penar!


Olhámos o sentido e sentimos o vazio!


Assinalamos a partida e nem um adeus de mão amiga!


É uma escuridão sem um amigo à mão!


Desatou-se o nó, alguém ficou... só!

Fotografia: Rui Palha


03.02.2004

14/04/05

Cabelos cor de prata

Os olhos são espelho de minha alma
O cabelo cor de prata, a minha velhice
As rugas são riscos da minha calma
Calma humanista já alguém mo disse.

Temos que agarrar o sol, agarrar a vida
Que passa por nós à desfilada
Tirar o espinho da fera ferida
Transformá-lo num ser de forma alada

Para mim a vida só faz sentido
Se tiver todo o Homem, como amigo!


Marius70

15.08.2003

13/04/05

O Último...

Nos cantos do bar, as aranhas teceram as suas teias e nelas capturaram as moscas que agora infestam o espaço onde antes ressoavam risadas.

Copos sujos, permanecem tombados sobre o balcão, com marcas de batom no seu rebordo, que tilintavam ao sabor de uma Cuba Libre, de um whisky, ou de um PisangAmbom.

Ao canto um gira-discos onde corpos, ao som de músicas românticas, se movimentavam numa sensualidade arrebatadora e se fundiam num só, pleno de entrega e prazer!

Ainda ali está a mesa onde escrevi o meu «Só», olhando a noite fria que me aguardava através da vidraça!

Aqui se fizeram amizades duradouras, para além do espaço e do tempo que os separa!

Agora é um espaço quase vazio, nada mais é como antes!

Eu fui o último… porteiro da noite!


imagem: Pintura sensual de Hamish Blakely

Tema escrito num Fórum, onde muitas amizades se fizeram e era o ponto de encontro dos que andavam... Fora-de-Horas! 15 Abril 2003

12/04/05

O Porteiro da Noite

Sou o porteiro da noite. Testemunho os encontros e desencontros que acontecem neste bar.

Observo tudo, mas finjo não ver. Escuto tudo, mas finjo não ouvir. E diante das perguntas mais inconvenientes, calo-me. Esse é o meu papel.

Não me importa quem entra ou quem sai com quem. Vivo em função do mundo. Giro e ao meu redor outros giram. Buscando algo ou alguém para se agarrar como tábua de salvação de uma existência efêmera.

Fuga ilusória. Braços, abraços, pernas entreabertas, sedutoras, um convite à luxúria, ao prazer.

Na calçada, passos apressados, um chiado, uma porta que se abre, uma porta que se fecha. Um corpo que se entrega, uma paixão que explode em mil tormentos, um beijo roubado em lábios frios, indiferentes… E a noite que nunca termina.

Olhos sonolentos, cansados, boca de esgares, de vícios consumidos entre um copo e um cigarro. Tudo vejo, pois sou… o porteiro da noite!


Tema escrito num Fórum, onde muitas amizades se fizeram e era o ponto de encontro dos que andavam... Fora-de-Horas! 15 Abril 2003 - 12-04-2005

31/03/05

Só!...

Neste canto do bar, sinto-me só. A chuva cai lá fora, e vejo pela vidraça os vultos solitários que vagueiam como fantasmas saídos de um mundo escuro e viciado.

Seguro um copo vazio do whisky que me arde nas vísceras, que me quer aquecer a vida, que me desafia a lançar-me na noite à procura de algo que me anime nesta jornada solitária. Mas fico parado.

Do balcão do bar, chegam-me aromas variados. De cigarros mal apagados com restos de cinzas brilhantes, onde ficam as marcas dos lábios voluptuosos que, por instantes, fizeram subir espirais de fumo até ao infinito.

Aromas de comida e do típico café, que mantiveram os olhos e as almas alertas para mais uma palavra, para mais um olhar, para mais um convite ao amor.

Estou só no bar. Levanto-me da cadeira onde passei parte da noite. Olho para o espaço vazio onde o silêncio reina. Abro a porta devagar, por momentos hesito… está frio! Ajusto a gola do casaco ao pescoço. Saio, e desapareço na noite!