Passeava absorto nos seus pensamentos. Ia muitas vezes, sozinho, por aquele trilho de terra vermelha. Ladeando o caminho, de cor clara, as limbas, árvores de grande porte que podem atingir a altura de 50 metros, predominavam. Os cheiros da floresta tropical, os sons da fauna que mal se via tal o emaranhado de cipós, de ramos entrelaçados que impediam a sua visualização, eram uma bênção da natureza. Estava no Maiombe.
O trilho ia dar ao rio que corria paralelo à aldeia de Tchinguinguili. Senta-se e vê-a.
Compenetrada na sua tarefa, não se apercebe que estava a ser observada. Lavava ali a roupa naquele rio de água cálida e cristalina que, em certos sítios, caía em cascata, local onde as nativas tomavam banho.
O seu corpo luzidio, estava seminu. O cabelo arranjado, um olhar aberto, os dentes alvos, um corpo de gazela. Cantarolava uma cantiga em ibinda, língua natural do povo de Cabinda.
Ela, de repente, sente que está a ser observada. Olham olhos nos olhos e foi como se ali, algo tivesse ligado os olhares. Houve uma empatia imediata entre os dois.
Pegando na trouxa de roupa, dirige-se para a povoação. Ele, fica ainda ali por momentos, como se aquela aparição tivesse sido um cometa que tivesse passado e deixasse rasto da sua luz.
Volta a vê-la tempos depois. O coração dele transbordava de alegria por a ver de novo. Não sabia quem era, o seu nome, se casada, se solteira. Viria a saber depois. Era casada, mas o marido há muito que não a procurava. Passava os dias bêbado com o maruvo (bebida alcoólica resultante da seiva das palmeiras), na companhia dos amigos.
E iam-se encontrando, aqui e ali, até que um dia tiveram mais um tempo juntos. Num local idílico, ali se beijaram. O mundo era só deles, nada mais existia.
O tempo da comissão estava a acabar. Em breve ele voltaria para a sua unidade e regressaria à procedência.
Resolveram encontrar-se numa noite perto do local onde se tinham visto pela primeira vez. O homem com a bebedeira dormia até tarde, nem notaria a falta dela.
A noite estava linda. Ela, vestida com o traje típico, com a esteira, aguardava-o. Ele, de camuflado, levava um cobertor que as noites no Maiombe são húmidas e frescas.
Deitaram-se sob a luz das estrelas. Amaram sem preconceitos ou tabus, o amor pelo amor. Adormeceram exaustos.
O sol ia penetrando nas copas das árvores e desperta-os. A mão dele estava sobre o peito daquela mulher. Os olhos dela pareciam estrelas que tinham caído do céu e ali tinham ficado. Foram até ao rio. Banharam-se, mas o tempo urgia. Vestiram-se. Ela com a mão faz um débil movimento, ele, com o olhar, diz-lhe … Adeus!